Fundação Franklin Cascaes manda artista retirar obra de exposição
“Pátria Armada” – Obra de Hideraldo Santos, alvo de censura
A imagem acima é uma obra cujo título é: Pátria Armada: Armas não salvam vidas, armas matam.
Nesta semana o MOVIMENTO HUMANIZA SANTA CATARINA tomou conhecimento de um ato de censura contra Hideraldo Luis Santos, artista plástico autodidata, gaúcho radicado em São José, Santa Catarina.
Entramos em contato e ele nos informou do ato de censura sofrido pela Sra Roseli Pereira, presidenta da Fundação Cascaes de Florianópolis, SC. Segue seu relato:
“Estávamos há tempo tentando um espaço que existe em frente aos banheiros no Largo da Alfândega. Descobrimos que a responsável é a Sra Roseli (…). Depois de muita conversa , paciência de nossa parte e exigências da parte deles mandamos projeto que foi aprovado sem ressalvas. Inclusive, enviamos croquis dos convites para a apreciação prévia da Fundação Cascaes que é a responsável pelo local (…). Mandamos croquis da disposição das peças no local, fotos de cada obra bem como título , tamanho e um release de cada uma. No dia da abertura. pela manhã, qual não foi nossa surpresa quando depois de tudo colocado no local aparece a Sra Roseli, olha a obra e pede pra tirar, sem apresentar motivo. (…) no afã de ver a exposição realizada não contestei a censura. Colocamos a obra na casa da Guarda Municipal. Passados alguns minutos volta ela pedindo que tirasse as toalhas que colocamos por sobre os expositores dizendo que ficaria melhor, o que, ingenuamente, aceitamos também. A Fundação Cascaes não fez nenhuma divulgação do evento, essa Sra foi lá só pra criticar e pedir que retirasse a obra , sem apresentar motivos. Seriam 4 sábados de exposição, o primeiro dia 8 de julho. Choveu e cancelamos. No dia 15 aconteceu o fato, no terceiro dia, 22 de julho, colocamos as toalhas e nos negamos a tirar apesar da presença e insistência dela, no ultimo sábado dia 29 colocamos as toalhas e também a obra ela ficou muito brava conosco. Lhe envio áudio de minha conversa“.
Segundo Hideraldo, o motivo da censura foi a exposição da obra “Pátria Armada” que desagradou a Sra Roseli Pereira. Conforme seu relato a obra foi coberta por um tecido mas, no último dia, ao se dar conta da agressão sofrida, resolveu exibir a obra e, por isso, foi advertido. “Não quero me incomodar“, teria dito Roseli Pereira.
À direita do toldo, a obra coberta. As demais estavam expostas
Ainda, segundo o artista, para conseguir autorização da Fundação, forneceu à entidade o projeto da Exposição Itinerante Por um Mundo Melhor com todas as imagens, títulos, descrições e dimensões das obras, inclusive, a obra alvo da censura. A íntegra do projeto enviado a Fundação Cascaes está no final desta matéria.
A Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes é uma entidade pública e “foi instituída com o propósito de fomentar uma ação cultural forte, autônoma e articulada com os setores turísticos, proporcionando maior autonomia às políticas públicas para a área da cultura em Florianópolis”, segundo informações contidas no site.
A Constituição Brasileira, em seu Artigo 220, parágrafos 1°, 2°, é bastante clara: “Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. § 1º – Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art.5º, IV, V, X, XIII e XIV. § 2º – É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.“
Hideraldo Santos foi vítima de um crime previsto na Constituição Federal. As obras representam o sentimento do artista em relação às armas e a tantos outros temas, e é legítimo que sua arte seja respeitada.
Se a Fundação Cascaes, representada por sua presidenta, tem sentimentos opostos, exigir a retirada da exposição configura CENSURA e é uma agressão inadmissível.
O MOVIMENTO HUMANIZA SC se solidariza com Hideraldo Santos e com todos os artistas vítimas de gestos antidemocráticos, e denuncia a entidade que diz fomentar a cultura. A expressão da arte, em todas as suas formas, deve ser livre e está amparada na Carta Magna do Brasil.
Lamentamos que uma Fundação Pública, mantida com o dinheiro do contribuinte da cidade de Florianópolis, adote uma postura arbitrária e ilegal da forma como foi feita, sem explicação, apenas para não me incomodar.
Repudiamos a censura. Sempre.
O documento, abaixo, é aquele que o artista enviou para a Fundação Franklin Cascaes com seu Curriculum artístico e pessoal, o descritivo, técnica, dimensões e texto explicativo de cada obra a ser exposta no local determinado pela Instituição.
Por: Júlio Pegna
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