Para os palestrantes, estado sempre teve o perfil mais conservador, mas chama atenção a ascensão da extrema-direita
O primeiro dia do ciclo de debates promovido pelo Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina (Apufsc-Sindical) dentro da programação de eventos do Movimento Humaniza Santa Catarina teve como tema “Por que Santa Catarina votou à direita?”, e foi realizado na noite desta quarta-feira, dia 7, no auditório do CFH, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O evento estava programado para ocorrer em dois dias, com programação também nesta quinta. No entanto, foi cancelado devido à paralisação das atividades na universidade em protesto contra os cortes de recursos.
O evento desta quarta foi aberto por Prudente Mello, um dos coordenadores do Movimento Humaniza SC, que contextualizou sobre a motivação para a criação do grupo, que busca articular ações para constituir conhecimento que combata todas as formas de preconceito, intolerância e discurso do ódio.
Também nesse sentido, o presidente da Apufsc-Sindical, José Guadalupe Fletes, falou da preocupação com manifestações neonazistas dentro da universidade e da importância de se discutir o assunto. O debate foi mediado e iniciado pelo vice-presidente da Apufsc, Adriano Duarte. “Esse ciclo parte de um questionamento sobre como Santa Catarina se tornou um estado que deu tanto respaldo a um governo com características fascistas”, pontuou.
Os debatedores foram José Roberto Paludo, João Carlos Nogueira e Vladimir Milton Pomar. Em sua fala, Paludo, que é doutor em Sociologia Política, ponderou que “Santa Catarina sempre votou à direita”, e que 2002, quando elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), “foi um ponto fora da curva”. Para ele, porém, é a partir desse momento que começa uma ascenção da pauta moral, um dos aspectos que levou à eleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2018, com apoio da maior parte do eleitorado catarinense.
Já João Carlos Nogueira, graduado em Ciências Sociais, além das questões morais e da defesa da família, propriedade e religião, apontadas por Paludo, pontuou que o eleitor catarinense se vê como morador de um estado “provedor e europeu”, o que o aproxima da direita. Ele ressalta, porém, que o que assusta é o crescimento de uma extrema-direita violenta. “Esse movimento não tem futuro do ponto de vista político-eleitoral, mas sempre será abrigo para essas pessoas”, alertou.
Nogueira foi coordenador e pesquisador do Núcleo de Estudos Negros (NEN) nas áreas de Educação, Cultura e Trabalho entre 1994-2003, subsecretário de Relações Institucionais da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) do Governo Federal entre 2003 e 2004, consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) entre 2007 e 2009, e secretário Executivo do Ministério de Promoção da Igualdade Racial do Governo Federal entre 2011 e 2013.
O último palestrante foi Vladimir Milton Pomar, coordenador de Parcerias Institucionais do Instituto de Estudos sobre a China da UFSC (Ichin/UFSC). Pomar falou sobre o “medo do comunismo” amplamente difundido pela extrema-direita e citou outro aspecto relevante para se entender como vota a população catarinense: a compra de votos. “Santa Catarina sempre foi de direita, e existe um grande impacto financeiro da compra de voto nas campanhas de direita no estado”.
Pomar é pesquisador associado do Centro de Estudos da Ásia da Universidade Federal de Pernambuco (Ceasia/UFPE) e da Rede China Y America Latina (Redcaem). É colunista do blog “Conexão Ásia”, do Portal e Revista Amanhã desde 2007. É consultor de relações institucionais China-Brasil.
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